O novo dono da KTM não está interessado em corridas, e é por isso que a Dorna está correndo atrás de outros fabricantes
Veja em vídeo:
A Bajaj adquiriu a maior parte da KTM e injetou um valor bem grande na marca para saldar suas dívidas, em ato finalizado na semana passada. Isso mantém a KTM segura financeiramente por enquanto, longe da falência e a Bajaj, que tinha 49,9% da KTM passou a ser acionista majoritária.
Sobre esse fato, falamos nesse vídeo que vou deixar em anexo:
Mas será que o novo dono da KTM acha interessante ficar na MotoGP? Toda vez que uma aquisição assim acontece, certamente essa pergunta vem a tona.
E se a Bajaj decidir tirar a KTM da MotoGP, não será por falta de poder financeiro para isso, e sim por uma diferença na visão de negócios. Não dá para negar o poderio financeiro da Bajaj, pois anualmente ela produz cerca de sete milhões de veículos de duas e três rodas, incluindo máquinas de menor cilindrada para KTM e Triumph. Apenas a marca indiana Hero MotoCorp, que começou como uma joint venture entre a Hero e a Honda e as marcas japonesas Honda e Yamaha produzem mais que ela.
Outros conhecidos fabricantes de motocicletas da Índia, como Hero MotoCorp, Royal Enfield e TVS, participam de corridas esportivas de uma forma ou de outra, porém a Bajaj não. Alguns especialistas da indústria indiana, inclusive, dizem que o presidente, diretor administrativo e CEO da Bajaj, Rajiv Bajaj, é totalmente contra as corridas, porque ele não acha que elas oferecem uma boa relação custo-benefício, então provavelmente ele retirará a KTM da MotoGP se puder. É a questão da visão de negócios que citamos anteriormente.
E obviamente, assim que o conselho se reunir, decisões serão tomadas, incluindo o futuro da KTM na MotoGP e outras áreas de corrida. A KTM mantém seu lema Ready To Race, que na tradução seria Pronto para Correr, há muitos anos, graças ao antigo proprietário Stefan Pierer, que era um grande fã de corridas, do Dakar ao motocross e do supercross à MotoGP. E com a troca do CEO, é óbvio que isso poderá mudar. Será que a Bajaj vai achar interessante se manter na MotoGP onde tudo é mais caro, ou focará nas outras áreas de corridas onde o custo é menor e onde a KTM sempre se destacou? Ou será que abandonará de vez as corridas? Lembrando que o orçamento anual na MotoGP é de 50 milhões de euros, valor que a KTM atualmente mal consegue bancar.
Em suas declarações após a aquisição, a Bajaj não citou as corridas nenhuma vez, simplesmente citou que a KTM é uma das “empresas de motocicletas de alto desempenho mais admiradas do mundo” e que seus planos para a marca são uma “jornada de recuperação” que inclui “crescimento global, elevação da marca e liderança tecnológica“.
E se não bastasse isso tudo, ainda tem a carência de resultados na categoria. A última vitória da RC16 em tempo seco, foi conquistada por Miguel Oliveira na Catalunha em junho de 2021. Até o momento, neste ano, os pilotos da KTM Pedro Acosta, Brad Binder, Maverick Viñales e Enea Bastianini ainda não subiram ao pódio, seja em sprints ou grandes prêmios. Como resultado, a KTM está em quarto lugar no campeonato de construtores, quatro pontos à frente da Yamaha, na lanterna, e 157 pontos atrás da Ducati, na liderança. A KTM tem tido bastante dificuldade na MotoGP atualmente, principalmente devido aos pneus Michelin atuais, que causam vibração e consequentemente sobrecarga no pneu dianteiro.
O piloto Jack Miller disse quando lá esteve que eles tentavam resolver esse problema mas simplesmente não conseguiram. Eles tentavam entender o que estava acontecendo com os pneus embaixo dos pilotos e onde estavam com o pneu dianteiro, porque isso dava uma sensação de excesso de confiança e, de repente, o piloto estava no chão e não entendiam o que tinha acontecido. E os problemas atuais de Pedro Acosta e demais pilotos são similares. Quem sabe mude algo com a Pirelli, a nova fornecedora de pneus que virá, quem sabe ainda uma possível nova equipe de trabalho na MotoGP ou ainda quem sabe surja um espírito de superação no CEO da Bajaj, afinal sonhar não custa nada e para nós fãs da MotoGP, seria muito bom que ela continuasse.
Porém, o projeto da KTM na MotoGP não enfrenta apenas problemas financeiros e falta de resultados. Com a incerteza pairando sobre seu futuro, é inevitável que pilotos, engenheiros e demais funcionários comecem a buscar garantias para o futuro em outros lugares. Isso só agravará as dificuldades atuais, com cobranças e debandadas. Os funcionários da KTM não são os únicos na MotoGP em busca de novas oportunidades. A Dorna, detentora dos direitos da MotoGP, não pode se dar ao luxo de perder quatro pilotos do grid de 22, então obviamente já está sondando fabricantes rivais para preencher as lacunas, se necessário.
E seria mesmo uma tristesa grande se a KTM deixasse a MotoGP, afinal sua história é bonita e ela tem muita importância também nas categorias de base. A KTM estreou em Grandes Prêmios no início dos anos 2000, com motores dois tempos de 125 cc e 250 cc, conquistando sua primeira vitória no GP da Malásia de 125cc em 2004 com Casey Stoner. A empresa levou o esporte mais a sério com a criação da Moto3 em 2012 e finalmente ingressou na categoria rainha em 2017, vencendo sua primeira corrida de MotoGP no GP da República Tcheca de 2020, com o Binder.
Uma solução para a Dorna caso a KTM saia, o que você já deve ter percebido, tem grande chance de acontecer, é a Honda ou a Yamaha assumirem mais duas motos para absorver as quatro motos da KTM. Porém, seria necessário verificar se as fabricantes japonesas tem esse interesse. Apesar que isso é problema para a Liberty Media resolver, e o fato desta gigante ter adquirido a categoria, aquisição essa que está prestes a ser aprovada, pode ser muito bom, pois quanto mais forte é o gestor, mais fácil é resolver seus problemas.
FONTE: motorsportmagazine
IMAGEM: KTM
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