Tristão da Cunha, localizada no Oceano Atlântico Sul em território britânico, desafia as noções convencionais da vida humana moderna.
Veja em vídeo:
A ilha Tristão da Cunha foi descoberta pelo explorador portugues de mesmo nome em 1506. Já foi a principal rota comercial entre a Europa e o Oceano Índico. Seus habitantes vivem em seu único assentamento, Edimburgo dos Sete Mares, que tem cerca de 11 Km de extensão. A localização é ao sul do Oceano Atlântico
Esta é uma pequena comunidade de aproximadamente 245 pessoas que residem ali. É conhecido como território habitado menos populoso do mundo, o mais isolado e com os acessos mais complexos de todo o planeta Terra. As pessoas estão bastante isoladas do resto da Terra. Os humanos mais próximos estão a 2434 Km. Incrível. Esse vizinho é Ilha Santa Helena, uma ilha que está no meio do Oceano Atlântico. Além disso, são 2.732 quilômetros da Cidade do Cabo, na África do Sul, e a 3.800 quilômetros de Montevidéu, no Uruguai.
E a aproximação com Tristão da Cunha é complicada por motivos obvios, como pouca estrutura. O local, que é composto por seis ilhas, conta apenas com um porto, uma escola, um posto dos correios e nenhum aeroporto. Assim, turistas lá é algo bastante difícil, pois precisa conhecimento, tempo e bastante dinheiro. A forma mais usada é usar a Cidade do Cabo na África, e enfrentar 6 dias de viagem em um barco confiável. Esse sistema de transporte só faz essa viagem 8 vezes ao ano, não é de luxo e comporta apenas 12 passageiros, e essas vagas costumam ser rapidamente ocupadas por outras pessoas que não são turistas e que tem prioridade, como médicos, residentes e cientistas. É possível visitar a ilha também com a permissão do Island Council e quando há vagas disponíveis. Navios de cruzeiro e iates são incentivados a ir também.
Sobre a vida lá, o Camogli Health Centre na ilha fornece serviços médicos e odontológicos, mas casos médicos sérios (incluindo gestantes) devem viajar por uma semana de navio para a Cidade do Cabo. A educação para cerca de 30 alunos de 5 a 16 anos é fornecida na St Mary’s School e os alunos que desejam continuar seus estudos podem fazê-lo no Reino Unido ou na Cidade do Cabo, apoiados pelo Fundo de Educação da Tristan da Cunha Association, uma instituição de caridade registrada. Há uma igreja anglicana, uma igreja católica romana, uma delegacia de polícia com um policial em tempo integral, um centro de turismo combinado e correios, uma piscina, um cibercafé e um café, um supermercado e o pub mais remoto do mundo (o Albatross) no Prince Philip Hall. O local também conta com um clube de futebol, o Tristan da Cunha FC.
Não há nenhuma emissora ou retransmissora de televisão na ilha de Tristão da Cunha, existindo apenas um único serviço de recepção via-satélite das Forças Armadas do Reino Unido (BFBS TV), com acesso a seis canais (BBC One, BBC Two, ITV, Channel 4, Sky News e BFBS Extra), tendo passado recentemente para cobertura digital. Além disso, também há aparelhos de videocassete que são utilizados para a exibição de filmes, apesar de não haver serviços de locação de vídeos na ilha. Equipamentos de TV modernos são comuns, apesar de algumas casas ainda terem televisores CRT. Os serviços de telefonia (telefones fixos, celulares e internet) são providos pela Cable & Wireless Worldwide através da comunicação via-satélite. Há apenas uma estação de rádio em Tristão da Cunha (Tristan Broadcasting Service) e um único jornal impresso (Tristan Times).
A questão da internet certamente mais interesse você, caso desejasse morar lá. Vamos ao assunto então: A primeira conexão de internet em Tristan da Cunha foi ativada em 1998, mas estava restrita ao administrador da ilha e, mesmo assim, ele só podia enviar e receber e-mails. Só em 2000 é que o uso do serviço de e-mail foi liberado para os moradores e, ainda assim, cobrando por mensagem enviada. Os custos chegavam ao valor de 9 euros por e-mail em 2003. A internet completa, com direito a acesso a páginas web, downloads e chats no UOL só chegou na ilha em 2006, com a ajuda de uma conexão via satélite que se tornou possível através da instalação de quatro antenas instaladas em um cibercafé da ilha. A chegada da internet em Tristan da Cunha foi um evento sem precedentes. Mas a alegria durou pouco, quando constataram que a conexão não superava os 256 Kbps, o que é extremamente lento, não suportando vídeos no YouTube, filmes na Netflix e até conversar por telefone. Telefonia móvel, portanto, nem existe lá. E essa velocidade de internet se mantinha até os dias atuais. Será que eles sentem falta? Tenho certeza que muita gente gostaria de uma vidinha assim.
Mas claro que com a chegada da tecnologia, principalmente a internet movida por satélite mudaria isso, e a Starlink do Elon Musk chegou lá. O novo serviço de internet de alta velocidade foi bem recebido pelos moradores da ilha e fará uma grande diferença na educação, nos hospitais, nos departamentos governamentais e na vida cotidiana. Temos relatos de pessoas terem sido paradas na rua por uma moradora da ilha um tanto emocionada, que conseguiu ver seus amigos pela primeira vez em anos ao vivo por uma videochamada. Isso mostra como coisas simples e normais para nós podem gerar muita emoção naqueles que as recebem pela primeira vez. A realidade agora é que o link de internet de entrada do sistema Starlink alcança uma largura de banda de até 300 Mbps, o que pode variar dependendo do uso da rede em qualquer momento. Os testes iniciais resultaram em velocidades de até 290 Mbps. O anúncio dessa nova tecnologia foi feito via X, também de Elon Musk, em 16 de setembro de 2024.
Mas existem fatos inusitados ocorridos lá, já que eles estão no início da era digital. São coisas parecidas as que nós também passamos lá no começo. E é o único resultado inesperado da Starlink. É que ela pega o caminho mais eficiente para conectividade no local, que é um link em Berlim na Alemanha. Portanto anúncios falados em alemão são, no entanto, um pequeno preço a pagar por internet de alta velocidade no meio do Atlântico Sul!
Voltando ao local, a paisagem é dominada pelo pico vulcânico St Mary’s Peak, que se eleva a mais de duas milhas de altura, com um lago em forma de coração no cume: o vulcão é classificado como “ativo” e tem expelido água no mar desde sua última erupção em 1961, o que obrigou os ilhéus a fugir e se refugiar no Reino Unido até que fosse considerado seguro o suficiente para eles retornarem dois anos depois. Um Volcano Park e uma réplica de pedra do Pioneers’ Cottage, bem como roupas de malha da marca “37 Degrees South”, vendidas pelo site da ilha www.tristandc.com, estão entre as iniciativas locais bem-sucedidas para diversificar a economia. Doações pelo site para o Education Fund e outras instituições de caridade da ilha, e inscrições para membros da Association, são bem-vindas.
Uma curiosidade do local é que ele conta com uma alta taxa de doenças como asma e glaucoma, pois pela baixa população e moradores sendo descendentes de poucas famílias, essa condição foi passada geneticamente entre seus moradores, pois os fundadores da ilha tinham essas doenças. Ali existem apenas nove sobrenomes (Collins, Glass, Green, Hagan, Lavarello, Repetto, Rogers, Squibb e Swain), constituindo no total 80 famílias. Isso é consequência da endogamia, gerada do casamento inevitável entre casais com grau de parentesco próximo, como por exemplo casamentos entre primos em segundo grau.
A economia baseia-se na agricultura e na pesca, como de lagosta de qualidade gourmet exportada para a Australásia, EUA e Europa. A fonte de renda da ilha baseia-se também na venda de cartões postais, selos e o mais importante, o turismo. Com relação aos selos, são muito procurados por colecionadores, pois conta a história do local, como uma vez em que o vulcão local entrou em errupção, em 1961 e as pessoas tiveram que fugir por barco, sendo refugiados no Reino Unido até 1963, quando puderam retornar e recuperar sua Terra Natal.
O local é de proteção hambiental. Em 2021, a Zona de Proteção Marinha Tristão da Cunha cria a maior reserva marinha do Atlântico e a quarta maior do mundo. Tristão da Cunha protege toda a sua Zona Econômica Exclusiva (ZEE) – abrangendo mais de 750.000 quilômetros quadrados! A grande maioria da área marinha protegida (91%) é uma Zona de Proteção Marinha que proíbe toda atividade extrativa. Devido ao isolamento das ilhas, as águas ao redor de Tristão da Cunha sofrem baixos níveis de perturbação humana, permitindo que a vida marinha prospere e desenvolva um alto nível de endemismo.
Com relação ao título da matéria, sobre ninguém trancar as portas de casa, não temos confirmação. Porém é algo bem provável. E você, gostaria de viver em um local assim? Ou agora que tem internet não quer mais? Deixe nos comentários.
IMAGEM PRINCIPAL: Imagens Getty – Edimburgo dos Sete Mares é o único assentamento em Tristão da Cunha
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