Super ricos querem acabar com a morte através do congelamento dos seus corpos e manter sua fortuna para sempre

Dizem que as únicas coisas certas na vida são a morte e os impostos, mas os multimilionários da América, tendo cuidado dos últimos, estão agora tentando perturbar o primeiro e garantir que ninguém possa arrancar as suas fortunas das suas mãos frias e mortas. Eles querem ser congelados para serem revividos quando a ciência descobrir como fazer isso.

Entre os que querem evitar a morte estão Sam Altman, Jeff Bezos, Larry Ellison e Peter Thiel da OpenAI estão entre os aspirantes a imortais que investem centenas de milhões de dólares em startups e pesquisas baseadas na noção de que “envelhecer é uma doença ” e que “pode ser desacelerado, interrompido e talvez até revertido”. Outro fundador da tecnologia, Bryan Johnson, ficou famoso por ter transfundido sangue de jovens em boa forma, incluindo o seu filho adolescente, durante seis meses no ano passado, um ato de depravação que ele esperava que ajudasse a curar as doenças, porém descontinuou a terapia, pois nenhum benefício foi detectado.

E deve ser frustrante quando você tem muito dinheiro e ainda assim não há como comprar a imortalidade. Daí o interesse em congelar o cadáver para um futuro renascimento. Esta noção mórbida ganhou força pela primeira vez em meados da década de 1960, quando o “pai da criónica” Robert Ettinger publicou o seu livro The Prospect of Immortality. Hoje, o Vale do Silício está em alta. “Temos algumas das pessoas de tecnologia mais ricas e proeminentes da Terra que já existiram”, James Arrowood, co-CEO da Scottsdale, Alcor Life Extension Foundation do Arizona, uma das duas principais instalações criogênicas dos EUA, vangloriou-se em 2023. Nota-se que os investimentos são grandes nesse sentido.

A empresa existe desde 1967 e conta atualmente com 225 corpos congelados, além de mais mil que já pagaram para serem congelados depois da morte.

Suponha que Thiel, que se alistou na Alcor, morresse com seu corpo se mantendo intacto. Contanto que ele tenha pelo menos US$ 220 mil em seguro de vida e mantenha suas dívidas mensais em dia, uma equipe de campo da empreiteira Suspended Animation Inc. irá atuar e substituir seu sangue por anticoagulantes e produtos químicos para proteger órgãos vitais.

Ele será então embalado em gelo para trânsito para Scottsdale, onde o “paciente” (como a Alcor os chama) será infundido com (basicamente) anticongelante e colocado sob nitrogênio líquido a -196 graus em um tanque Bigfoot Dewar que pode conter até quatro “pacientes inteiros” e cinco “neuropacientes” (apenas cabeça) por tempo indeterminado. Mas, na eventualidade de o reavivamento se tornar viável, permanece um problema que é a questão do dinheiro, expresso por outro velho ditado: “Você não pode levá-lo consigo”.

Mesmo?

Cerca de uma década atrás, o advogado de Scottsdale, Mark House, estava trabalhando no contestado espólio de um homem que havia sido congelado. No processo, ele se reuniu com a equipe da Alcor e ficou encantado com as questões legais relacionadas à ressurreição dos mortos. Os “concedentes” ricos usam rotineiramente fundos fiduciários para canalizar fortunas para os seus herdeiros. Talvez um concedente descongelado pudesse se passar por seu próprio herdeiro, afinal “você não quer voltar pobre”, explica House.

Aqui estamos falando de moradores dos Estados Unidos onde existem suas leis. Cada país terá que criar, ou mudar, as suas.

Então ele se aprofundou e, com o tempo, “desenvolvi um conjunto de leis”. Desde então, House criou cerca de 100 “trustes de suspensão criônica”. A parte complicada, em teoria, é que um concedente é legalmente obrigado a nomear um “beneficiário verificável” antes de o trust ser adquirido (distribuindo os seus ativos). Quase todos os estados dos EUA já tiveram uma “regra contra perpetuidades” que limitava os trustes a 90 anos para evitar que a “mão morta” de um concedente controlasse os assuntos familiares indefinidamente.

Mas a indústria de protecção da riqueza tem feito lobby para enfraquecer ou revogar estes limites. Em 2008, o Arizona alterou a sua lei para permitir trustes que duram até 500 anos, o que até um procurador-geral republicano considerou “provavelmente inconstitucional”. Hugh Magill, ex-diretor fiduciário da Northern Trust Company de Chicago, me disse que encontrou vários trustes criônicos, um dos quais buscava proteções para a “versão analógica biônica” do concedente, uma “pessoa” biônica na qual uma cópia digital da mente do concedente foi carregada. Mas “mesmo os melhores advogados enfrentam um desafio significativo”, disse ele, com trustes que “tentam navegar neste canal” entre os vivos e os mortos.

Além disso: os trusts da Cryonics ainda não foram testados em tribunal.

Para o crionauta típico, House recomenda um “fideicomisso de acumulação” financiado por seguro de vida: os ativos do fideicomisso crescem à medida que o concedente esfria. Bilionários como Thiel podem favorecer um fundo de dinastia, que a aristocracia americana já utiliza para sustentar as suas famílias para sempre, onde a lei o permitir. A versão criogênica precisa apenas estipular que o “corpus” (recursos) poderá um dia reverter para o cadáver (revivido). Para simplificar, House considera que o concedente descongelado deveria ser tratado como uma pessoa inteiramente nova, embora isso possa desencadear um pesado imposto sobre heranças que salta gerações.

O fisco pode nunca precisar decidir sobre a legalidade dos criotrustes. Afinal, mesmo Thiel “ não está convencido” de que a criónica vai funcionar. Mas todos estes bilionários que perseguem a imortalidade, diz Magill, “deveriam levar-nos a fazer algumas perguntas mais profundas”. e não menos importante: a Terra será habitável em 2324?

*Motherjones

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