Veja como é o sistema contra cheias de Nova Orleans nos EUA feito após o furacão Katrina e que pode ajudar o Rio Grande do Sul a evitar novas catástrofes climáticas

Veja em vídeo:

Até hoje, o furacão Katrina e seus estragos no estado americano da Louisiana é uma das maiores calamidades naturais vivenciadas nos Estados Unidos. E as obras de prevenção que lá foram feitas é um ótimo exemplo a ser seguido no Brasil, tendo em vista a recente tragédia que ocorreu, e segue acontecendo no Rio Grande do Sul. Por aqui, especialmente na grande Porto Alegre, também existia um sistema de defesa e como o sistema existente em Nova Orleans, falhou. No caso brasileiro falhou, principalmente pela falta de manutenção (abordamos este assunto em vídeo aqui do nosso canal). Em vez de uma enxurrada que se estendeu por dias, lá um furacão e o avanço das águas do golfo do México causaram a destruição em diversas cidades, principalmente na metrópole de Nova Orleans. Assim como em Porto Alegre na grande cheia de 1941, um plano precisava ser colocado em prática para evitar novas catástrofes na região, e foi.

E não foi nada barato: Depois de uma década em construção e mais de 14 bilhões de dólares investidos, o complexo sistema de proteção foi finalizado em 2015 para proteger a cidade. Em sua base, estão mais de 500 quilômetros de diques, mais de 70 casas de bombas, comportas, canais extravasores e muros com até 8 metros de altura construídos tanto nas áreas mais baixas de Nova Orleans até em meio às águas do rio Mississípi e dos lagos que circundam a capital.

Antes de falar do sistema americano, vamos recordar Porto Alegre. Houveram algumas outras propostas após a cheia de 1941 em Porto Alegre, que foram abandonadas. Uma delas era de construir um canal de 80km até onde hoje é Balneário Pinhal. Isso foi abandonado na época pelos altos custos e por, ao fazer a ligação do Guaíba com o mar, causaria o esvaziamento dos portos de Pelotas e Rio Grande, na região Sul, causando grave desequilíbrio econômico ao RS.

Rafael Guimaraens/Arquivo Pessoal

Então a solução pode ser fazer o que Nova Orleans fez.

A área metropolitana de Nova Orleans, nos Estados Unidos, abriga 1,2 milhão de pessoas. Situada entre a costa do Golfo e o rio Mississippi, quase metade da área está abaixo do nível do mar.

A região é propensa a fortes tempestades, com furacões aumentando todos os anos no vizinho Golfo do México. Essas catástrofes naturais podem varrer o interior, muitas vezes causando inundações, danos e perda de vidas.

Nova Orleans tem extensas defesas contra inundações, compostas por 560 Km de comportas e diques. Um dique é um aterro ou parede – geralmente feito de terra e muitas vezes paralelo a um rio. Os diques são projetados para conter o aumento das águas em tempo tempestuoso.

Foto: Frederic J. BROWN/AFP

O furacão Katrina atingiu o sudeste da Louisiana em 29 de agosto de 2005. Classificada como categoria 5, a mais destrutiva, a tempestade causou enormes danos em Nova Orleans e áreas vizinhas, em grande parte devido à falha do sistema de barreira contra inundações da cidade.

A água penetrou até 10 Km para o interior e cerca de 80% da cidade foi inundada. Mais de 1.000 pessoas morreram e 200.000 casas e empresas foram destruídas ou danificadas. Mais de 800.000 residentes tiveram que fugir da área.

Após o desastre, investigadores independentes estabeleceram que os diques e comportas de Nova Orleans falharam devido a falhas no projeto do sistema e na construção.

O Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA (USACE) – a agência governamental responsável pelo sistema – contratou a empresa de engenharia Royal HaskoningDHV para ajudar na reforma das defesas contra inundações da cidade.

“Hoje, é possível proteger Nova Orleans de um furacão de categoria 5. Não é feito nada equivale a negligência.” Dizem os responsáveis pela obra.

Esta foto lembra muito o que aconteceu no Rio Grande do Sul.

Porém, é uma vista aérea de Nova Orleans após inundações provocadas pelo furacão Katrina em 2005| Foto: Marty Bahamanode/Efe

Diferença que o projeto fez

Foi redesenhado e reconstruído o sistema de defesa contra inundações de Nova Orleans, que é conhecido oficialmente como Sistema de Redução de Risco de Furacões e Tempestades da Grande Nova Orleans.

O projeto de seis anos coletou dados sobre o desempenho dos diques e utilizou modelagem computacional para projetar melhorias na rede de comportas e barreiras da cidade.

Os engenheiros do projeto agora acreditam que Nova Orleans estará protegida contra furacões e tempestades no futuro próximo.

Recentemente, o furacão Ida colocou a prova o sistema em 2021. Diques e bombas resistiram evitando uma inundação catastrófica, apesar da energia falhar em Nova Orleans

Como foi feito o trabalho

As primeiras tarefas dos engenheiros que trabalharam no projeto de Nova Orleans incluíram o estabelecimento de uma linha de base de desempenho para a rede de proteção contra inundações da cidade.

A equipe do projeto então usou modelagem computacional para descobrir como o sistema de comportas e diques da cidade ficou aquém dessas metas quando foi atingida pelo furacão Katrina.

Um problema exposto pelo Katrina foi que as encostas posteriores dos diques tinham sido erodidas – especialmente onde eram feitas de materiais mais fracos, como o solo.

Os pontos de transição entre diferentes estruturas e tipos de materiais – por exemplo, em cruzamentos rodoviários ou ferroviários – foram outro ponto fraco.

Os engenheiros de projeto projetaram estruturas para apoiar e fortalecer os diques e pontos de transição. Também aconselharam sobre como reconstruir e fortalecer os pântanos da costa da Louisiana, uma vez que estes funcionam como uma barreira natural contra o mar.

O esquema também viu engenheiros modelarem os efeitos do desvio do curso do Mississippi. A equipe do projeto previu que isto iria mover mais sedimentos para a área – fortalecendo as defesas contra inundações em geral.