Nesta cidade localizada no noroeste do RS, a quantidade de gêmeos é bem maior que a média nacional. E a principal pergunta é: isso é artificial ou natural?
Veja em vídeo:
Cândido Godói é um pequeno município brasileiro localizado no noroeste do Rio Grande do Sul e é conhecido como “Cidade dos Gêmeos” devido à alta taxa de nascimentos gemelares na região. Diante de um fato tão notável, muitas explicações foram sugeridas. Entre estas teorias, a que mais recebeu atenção da mídia, mesmo sem base científica, foi a de que a gemelaridade seria fruto de experimentos de um médico nazista alemão foragido após a Segunda Guerra Mundial. O atual prefeito, Valdir Luis Goldschmidt, que também é médico obstetra, não acredita nessa história: “comprovaram que essa relação de gemelaridade já vem muito antes da passagem deste médico e ficou claro que é uma situação peculiar da comunidade.”
A convite da própria comunidade através de um vereador em 1994, o grupo de pesquisa da UFRGS trabalha para resolver este mistério desde 1994, analisando diferentes fatores possivelmente relacionados, em especial suas características genéticas. E o trabalho não é pequeno não, já são mais de duas décadas de pesquisa, com foco nas particularidades do processo de comunicação dos resultados, aspectos éticos e como os achados científicos naquela comunidade contribuem não apenas com a resolução de um mistério histórico e local, mas também com o estudo de outras questões, como a reprodução humana e as bases biológicas da gemelaridade.
O que é interessante, é que o nascimento dos gêmeos concentravam-se em famílias e locais específicos da cidade, especialmente em um local conhecido como Linha São Pedro. Neste local, a taxa de nascimentos gemelares era de 10% para o período de 1990 a 1994, enquanto que a taxa brasileira para o mesmo período era estimada em 1.8%. Na década de 1990, 84 famílias viviam no local, com uma população geral de 349 indivíduos, sendo 44 gêmeos. A nível de comparação, em toda a cidade, foram analisados mais de 6000 registros de batismo entre 1927 e 2008, identificando-se 91 pares de gêmeos e 1 caso de trigêmeos.
E as conclusões atuais vindas da ciência são claras, vindas pelas palavras da geneticista Ursula Matte, formanda da UFRGS em 2001. Ela diz que o que se conseguiu demonstrar com o estudo da universidade que vem desde 2008, é que o fenômeno ocorre muito antes da presença do médico nazista Josef Mengele ter estado no Brasil e segue ocorrendo muito depois. O que acontece nas décadas de 1960 e 1970, quando da passagem pelo local do médico nazista, é um aumento no número total de nascimentos e por consequência, os número absoluto de nascimentos gemelares também aumenta. A coordenadora do estudo, professora Lavínia Schuler-Faccini diz que quando foi considerada a proporção do número de nascimento dos gêmeos sobre o número total de nascimentos, a conclusção é que isso não se modifica desde o início do século XX, quando essa comunidade se estabeleceu. Então eles acreditam que existe algum fator genético que ainda não pode ser demontrado e confirmado, que facilita a gestação de gêmeos naquela cidade. E na comunidade existe historicamente um isolamento reprodutivo, ou seja, o fato de que os casamentos são realizados quase que exclusivamente entre os membros da mesma população, contribui ainda mais para que um fator genético, ou este fator genético ainda desconhecido, possa aumentar ainda mais de frequência.
Caso você queira ficar por dentro do que a ciência já sabe com relação aos genes que teríam relação com o nascimento de gêmeos, o link com o estudo está aqui
A comunidade local, após o estudo, está diferente, muito mais orgulhosa do título de “Cidade dos Gêmeos”. O pórtico de entrada da cidade anuncia a entrada na “Cândido Godoi,RS,Gêmeos,cidade dos Gêmeos,Valdir Luis Goldschmidt,UFRGS,Ursula Matte,Lavínia Schuler-Faccini,Josef Mengele,Terra dos Gêmeos”, existe também o “Museu dos Gêmeos” e várias placas com um símbolo com duas faces, representando os gêmeos. A cada dois anos realiza-se a “Festa dos Gêmeos” na linha São Pedro. Além disso, uma explicação local para a alta taxa gemelar surgiu: a água de uma fonte local.
A nível de mundo, as taxas de nascimentos gemelares variam muito, sendo consideradas mais frequentes em populações sub-saarianas, ao sul do deserto do Saara, que tem até 27 por 1000 nascimentos em alguns países, intermediárias em populações norte-americanas e europeias, com 9-16 por 1000 nascimentos e menos freqüentes em populações asiáticas e sul-americanas, com 6-9 por 1000 nascimentos. No Brasil, segundo os próprios integrantes do estudo, a cada 1000 nascimentos registrados, aproximadamente 9,4 são gemelares. Neste mesmo estudo, observamos também que existe uma tendência ascendente nas taxas de gemelaridade apenas para algumas áreas do país, principalmente, naqueles lugares com um alto IDH e que é ainda mais pronunciada em algumas mulheres, sobretudo aquelas de idade mais avançada.
E no site da BBC encontrei entrevistas com moradores locais sobre o assunto, vamos as respostas:
“Para nós, era algo normal”, diz Lucia Gronitzgi, que tem uma irmã gêmea, Luciane Gronitzgi. “Tínhamos colegas da escola que também eram gêmeos. Muitos coleguinhas, amiguinhos. Nós até estranhávamos quando não eram gêmeos, né?”, afirma Luciane.
E o fato de os moradores estranharem mostra que isso é mesmo algo anormal por lá. Gostou? Esse fatos seria um acaso genético ou tem algo por trás? Qual a sua opinião sobre o assunto? Deixe nos comentários.
FONTE: UFRGS
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